Criticando minhas próprias escolhas, acrescentando categorias que ficaram de fora e justificando algumas ausências importantes
Sim, eu sei que Enigma do Medo ficou de fora da lista de Melhores Jogos de 2024 do Controles Voadores. E se você leu direito as notas de cada categoria do primeiro texto você viu que foi uma escolha consciente.
Nesse texto aqui vou listar alguns jogos que não entraram nas 15 categorias principais por vários motivos importantes e válidos como "não deu tempo" e "eu esqueci". É a hora de falar dos ESNOBADOS da Premiação Sem Prêmios de 2024.
A começar pelo elefante na sala: porque Enigma do Medo não está na lista principal? O terror/quebra-cabeça inspirado em Ordem Paranormal feito pela Dumativa em parceria com o Cellbit é uma bela aventura e tem muito potencial pra se tornar um dos jogos brasileiros mais vendido de todos os tempos. Enigma teve um dos maiores financiamentos coletivos da história. Enigma teve pico de mais de 10 mil jogadores simultâneos em seu lançamento, mantendo 1000 acessos diariamente até o dia que escrevo esse texto. Enigma não precisa estar na humilde lista do Controles - e o mesmo vale pra Ruff Ghanor, com toda a estrutura do Jovem Nerd por trás - podia até ser o surgimento de verdade da categoria "Jogo de Influencer" que eu brinquei no ano passado.
Uma categoria que ficou, de fato, esquecida foi a de metroidvanias. Olhando de novo o Radar de Jogos de 2024, percebi que teve muita coisa que passou batida por mim, ficando só Momodora ali na categoria "Ação". Então peço desculpas pra jogos como Mars 2120 (QUbyte), Dimensional Animals (Marcos Game Dev) e Vyanka's Memories (O Rei Luiz). Vocês merecem um cantinho só pra vocês.
E o que falar daqueles "jogos que melhor retratam problemas sociais escancarados na nossa sociedade"? Nada melhor do que trazer aqui Imobilidade Urbana (Núcleo de Tecnologia do MTST) - sobre o terror que é depender de um transporte coletivo precarizado pela iniciativa privada em um governo fascista maquiado - além do jornalismo burguês safado de Cidadão de SP Simulator (Oh Deer! Duo) e das ordas de zumbis patriotas de Capital Fire (Lizards Games).
Outro jogo que pode ter machucado os fãs por não aparecer na lista final é Cyberwar: Neon City (Cyber Monkey Studios). Nada contra o excelente Gungeon cyberpunk do Wenes, o único motivo pra não estar no outro texto é porque o jogo ainda não foi lançado. Por isso Cyberwar encabeça a categoria "Melhores Acessos Antecipados", ao lado dos absolutamente maravilhosos. Atomic Picnic (BitCake Studios) e Hell Clock (Rogue Snail) - dois dos jogos que eu mais joguei nas últimas semanas.
O mesmo vale pro nosso cachorro entregador de pizza preferido: Toni Island Adventure (Frolic Studio) com certeza vai estar na categoria "Melhores Joguinhos que também lançaram fita pra Game Boy" ano que vem ao lado de Green Memories (Tengukaze Studios).
Indo em linhas parecidas, também decidi não colocar ports ou novas versões lá na primeira lista. E por isso ficaram de fora jogos premiados em 2023, como CODE Bunny (Team Seventh Star), que agora saiu pra Steam; Lunar Axe (OPS Game Studio), que ganhou port para os consoles; e Slash Quest (Mother Gaia e Big Green Pillow) que viu a lili cantar saindo do Apple Arcade pras demais plataformas.
Temos um bicampeão inédito aqui no Prêmio Sem Prêmios de 2024. Juliano Lima, o lightUp, mais uma vez fica com o "Prêmo Honorário Thiago Oliveira de Máquina de Jogos", lançando DE NOVO quatro jogos completos. Juliano começou o ano com Prehistoric Gal e Beaked Buccaneer (dois metroidvanias), passeou por Speed Factor (corrida arcade) e fechou o ano com Milo's Dream (um rpg de exploração). Segue uma máquina.
É preciso fazer menção honrosa também pros queridos Gagonfe (Archaeogem e Rocket Rats) e o Arthur Kayle (Machick e Bees vs Zombees). Quem sabe ano que vem a gente não rebatiza a categoria pra "Prêmio Juliano Lima" e aí damos uma chance pra outros criadores?!
Senti falta também de fazer a categoria mais dançante do prêmio. Pra "Melhores Jogos com Música", eu tenho que citar o simpatiquíssimo Alien Paradise (Sendo Estúdio) e o frenético lunr.rdio.taxi (Soín Coletivo) - que ainda não saiu, mas quebrou tudo nos eventos com seu driftmo acelerado regado a muito tecno-brega, funk eletrônico e pop estralado.
Queria também deixar um aceno muito caloroso pra Meiri Games, criadora que lançou Hydrangea, Someone to Hold Me e One Last Story, jogos gratuitos narrativos super íntimos, profundos e queers. Além de promover vários bafafá nas redes com game jams.
E pra quem não viu a transmissão em vídeo da PSP 24, vale o lembrete do trabalho necessário e coletivo das Associações Estaduais e dos coletivos. Na transmissão rolaram várias indicações de jogos de cada estado do país, além de jogos de estudantes e do Coletivo Trans. A intenção é 2025 ter ainda mais presença dessas entidades e desses jogos que mesmo no nosso nicho independente seguem sendo os indies dos indies.
Enfim, são MUITOS jogos e MUITAS categorias faltando, mas por hoje é isso. Espero que esses textos sirvam como uma dose de dreher com limão numa manhã de terça-feira fria e aqueçam o coração daqueles criadores de jogos que se encontram desesperançosos pelas muitas merdas de 2024.
Se o mercado de desenvolvimento de jogos tá em crise, a gente luta pelos nossos. Organização é o caminho e o Controles vai ser sempre um ponto de convergência pra encontrarmos quem precisamos encontrar na hora que precisamos encontrar. Ano que vem a gente segue junto.
Bom natal pra quem é de natal. Bom ano novo pra quem é de ano novo.
Dissestes tudo devidamente explicado! 🤩👏 Saudações ao nosso herói q não veste capa!