top of page

Diário de Videogame: Dia de evento

  • Foto do escritor: Eddy Venino
    Eddy Venino
  • 16 de mai.
  • 4 min de leitura

Saindo de São José dos Campos. Mais uma ida para São Paulo. Bora, para mais um evento de games

Imagem do jogo I Did Not Buy This Ticket (só pra ilustrar a viagem...)
Imagem do jogo I Did Not Buy This Ticket (só pra ilustrar a viagem...)

Pego um Buser - mais barato -, adentro a Dutra e tenho uma hora e meia de viagem pela frente. Geralmente essa é minha rotina: ônibus, metrô, Uber e então estou na porta do “fantástico mundo dos jogos eletrônicos” da vez - ah, toda a grana gasta, desde a ida até a volta, alimentação e o que mais for, claro que sai do meu bolso. Mas é um gasto pequeno, não é? Afinal, estou vivendo um sonho…


Boas-vindas a Fantástica Fábrica de Videojogos!


Sou apenas um mero redator que escreve sobre videogames. Ocupo apenas uma entre dezenas de posições possíveis para quem sonha em trabalhar com jogos. E dentre todas elas, a mais importante é a de desenvolvedor de jogos - segundo o Eddy aqui, tá bem. E sim, eu sei que esse é um guarda-chuva que abarca diversos tipos de profissionais, mas sei que vocês entendem o meu ponto aqui: quem faz joguinho é DEV!


E todas essas pessoas que trabalham com jogos, inevitavelmente acabam se encontrando em algum momento num desses eventos, semelhantes aos que eu frequento, como um mero redator.


Eu já fui em muitos. Alguns mais privados, outros somente para imprensa, mas na minha opinião, os mais interessantes para observar todo o ecossistema de jogos, com certeza são os eventos abertos ao público.


Com estandes que custam centenas de milhares de reais para serem montados, em locais reservados que podem ultrapassar os milhões, dentro de um galpão gigante que espera reunir mais uma centena de milhares de pessoas - ou fãs apaixonados por games, como o marketing adora rotular -, essa reunião ambígua de interesses é uma catarse anual que pode gerar tanto coisas boas como ruins.


O que está à espreita? Propostas duvidosas? Pitchs nervosos? Coqueteis vips para inflar egos pretensiosos? Grandes exibições de trailers ambiciosos? Ou apenas uma saudável reunião daqueles que compõem a nata do mercado de jogos brasileiro? Bem, um pouquinho de tudo isso. 


Essa festa virou um enterro

Chego ao evento em questão, revejo amigos de longa data, nos abraçamos, reclamamos, damos boas risadas, tomamos um café na sala de imprensa e atualizamos nossa foto para o Instagram.


Jogo alguns títulos, faço algumas entrevistas, discuto sobre o segmento com meus pares, assisto palestras.


Entre um cigarro e outro, circulo pelo evento refletindo sozinho - ou às vezes acompanhado - sobre o futuro dos games no Brasil. Sobre o futuro dos trabalhadores do segmento de games. Sobre o futuro dos devs. Que ano após ano parece cada vez mais insalubre sob várias perspectivas, mas também promissor sob várias outras.


E aqui a vida imita o game, onde parece que estamos num eterno roguelite: progredindo, ganhando skills, experiência e armamentos, mas voltando ao início de tudo a cada novo “chefão” - vulgo, pessoas com dinheiro que só querem faturar com os games - que nos derrota.


A eterna batalha entre criativos e engravatados. O primeiro tenta dar vida a obras cativantes, enquanto o segundo tenta extrair o máximo de “resultado” - leia-se dinheiro - do que eles chamam de produto.

Quem diria que o Hades da vida real assina cheques...
"Manter os criativos próximos, quase como reféns, romantizando todo o processo doloroso que muitas vezes é criar games"

Esses pensamentos cruzam minha mente entre um estande e outro. Enquanto vejo os jogos expostos ali, desenvolvedores alegres em falar de sua criação - muitos cansados pela maratona exaustiva que é estar num evento -, me vem à mente outra cena pela qual circulei bastante: a do rock underground.


Já tive uma banda lá pelos meus vinte e poucos anos e toquei por um bom tempo. E desde essa época escuto a falácia: “O rock morreu!”. Mas é tudo baboseira, a realidade é bem diferente. Existem bandas novas surgindo no underground o tempo todo, trazendo toda visceralidade e criatividade que a cena precisa. Mas é claro que o mainstream sofre ao não conseguir sugar ou usurpar o que é criado pelos independentes. E nos games é exatamente a mesma coisa.


As grandes produções, os jogos AAA, enfrentam ciclos de saturação. E nesses momentos eles se viram para os independentes buscando uma salvação. Por isso eventos assim são tão importantes para essa faceta da indústria. Manter os criativos próximos, quase como reféns, romantizando todo o processo doloroso que muitas vezes é criar games, com a promessa de que os indies também podem ser grandes - mas só com o aval deles, no evento deles!


Games = Pessoas

Já dizia aquele site Controles Voadores "jogos vivos pra pessoas vivas" (Pintura "Operários", de Tarsila do Amaral, 1933)
Já dizia aquele site Controles Voadores "jogos vivos pra pessoas vivas" (Pintura "Operários", de Tarsila do Amaral, 1933)

Mais um café, outro cigarro e mais algumas conversas. Estou chegando ao fim de mais um evento. E após toda a entropia gerada através das trocas (e fofocas) com os meus, a conclusão para mim é sempre a mesma:


Os bons profissionais continuarão fazendo um ótimo trabalho e criando experiências fascinantes. Eles merecem todo apoio e dinheiro do mundo. Eles merecem reconhecimento e espaço para crescerem. Eles merecem ser vistos como rockstars. Mas a real é que os grandes, com seus egos inflados, preferem matar o rock a perder o controle sobre ele.


E onde ficamos nisso tudo? Nos renderemos ao processo? Batemos de frente? O que nós podemos/devemos fazer?


A resposta é complexa e o caminho é tortuoso. E eu não sou nenhum coach para apontar o método infalível para o sucesso - longe de mim, credo! Mas sei que tem pessoas que estão lutando por isso. Gritando por isso! E elas nunca estão sozinhas. Assim como no Controle Voadores. Pois, como ressaltou Lucas Toso em uma de nossas conversas:


“Isso não é sobre games. É sobre pessoas!"

P.S.: Esse e outros pensamentos, conversas, fofocas, risadas e muita indignação podem ser encontrados nos barzinhos pós-evento. Que no geral são encontros bem mais produtivos rs.



1 commento


Victor de Paiva
Victor de Paiva
há 5 dias

Perfeito, Eddy. Vou levar este parágrafo pra vida: "As grandes produções, os jogos AAA, enfrentam ciclos de saturação. E nesses momentos eles se viram para os independentes buscando uma salvação. Por isso eventos assim são tão importantes para essa faceta da indústria. Manter os criativos próximos, quase como reféns, romantizando todo o processo doloroso que muitas vezes é criar games, com a promessa de que os indies também podem ser grandes - mas só com o aval deles, no evento deles!"

Mi piace
bottom of page