O Poder da Baixada! Conheça o Cenário Indie Dev da Baixada Santista
- Livia Scienza

- 30 de jun.
- 8 min de leitura
O Censo 2025 realizado pela 13 Bit Game revela o potencial não comentado da Baixada
Fala meus camaradas! Hoje apareço por aqui para falar de um pessoal sinistro que tem feito tsunamis no cenário de desenvolvimento de games.... Mas que por algum motivo, não possuem a divulgação que deveriam ter. AINDA! E é justamente por isso que cá estou, para trazer os dados do censo levantado pela 13 Bit Game e para comentar sobre a cena dev da Baixada Santista.
Pega sua prancha e vem surfar essa onda comigo. A menos que você seja mais do skate, nesse caso vem curtir as manobras que o povo manda por aqui. ALIÁS, fica atento porque ainda esse ano vai rolar o SANTOS POWER UP!

Para quem não sabe, recentemente me mudei para Santos (Charlie Brown Jr tocando ao fundo). Saí do interiorrrr e vim me alocar aqui em plena Baixada. Fui recebida de braços abertos pela comunidade de devs e fiquei CHOCADA com a quantidade de eventos incríveis que a galera faz por aqui, muitas vezes sem investimento externo algum. Se vocês acham que que só a grande São Paulo produz eventos gamer de qualidade aqui no Estado, estão ENGANADÍSSIMOS!
Venho aqui como uma espécie de antropóloga fazendo uma imersão na cultura da Baixada. Tive a honra de receber, em primeira mão, os dados brutos de um censo desse ano que traça o perfil dos devs aqui da região. Meus camaradas da 13 Bit Game me cederam essa lindeza. 13 Bit Game? Sim!! Um coletivo de devs INCRÍVEIS.
A 13 Bit Game

Iniciada por quatro caras com perfil de dar a cara tapa que se uniram após uma Game Jam, hoje o coletivo conta com mais de 100 desenvolvedores e integrantes do desenvolvimento de games. São mais de 160 membros no Discord e uma extensa lista de promoção de eventos gamers e geeks.
Há anos a ODS Santos e a Zero 13 GameClub (Z13) organizam em parceria com o coletivo o Santos Power Up! Nesse ano o evento promete ser GRANDE. Não deixe de olhar as redes do evento e de toda essa galera incrível!
Saca só alguns dos games que a galera daqui da Baixada produziu!
O CENSO
O censo é uma iniciativa da 13 Bit Game feita com o movimento ODS Santos 2030, contemplando o item 8 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (Trabalho Decente e Crescimento Econômico). Contando com 97 respondentes, os dados nos dão uma visão panorâmica da região. A maioria dos respondentes são de Santos (44,3%), São Vicente (18,6%) e Guarujá (12,4%).
Como uma boa pesquisadora, AMO gráficos e dados visuais. Vamos a eles?

Sobre o grau de escolaridade dos participantes, contata-se que a maioria tem Ensino Técnico em andamento (37%), seguindo de Ensino Superior Completo (22,7%) e Ensino Médio Completo (13,4%). No cenário dev, ter uma Pós-Graduação não é tão comum na amostra da Baixada e pode, de fato, ser contraproducente. O mercado de jogos brasileiro, em geral, cobra portfólio e não necessariamente uma formação super especializada.

Um adendo importante e de transparência aqui é o de que as perguntas sobre gênero e identidade racial foram inseridas a posteriori. Dessa forma, apenas 29 respondentes tiveram espaço para fornecer essas informações. Esses dados não são representativos de todos os respondentes e não é possível inferir que seriam generalizados para o restante dos participantes.
Feito esse esclarecimento: com um cenário majoritariamente masculino (76% dos 29 respondentes), seria imprescindível que uma movimentação fosse feita para incentivar mulheres e não-bináries a se engajarem na produção de jogos da região. Seria interessante que censos futuros incluíssem dados sobre representatividade PCD.

Dentre a amostra de 29 participantes, a a maioria se autodeclara branca. A segunda maior parcela se declara parda. Apena 6,9% dos respondentes se declara preto, 6,9% amarelo e apenas um respondente se declara indígena.

A partir daqui, os dados retornam a ter a amostra de 97 participantes. Em relação à faixa etária, nota-se uma grande concentração de desenvolvedores de 16 a 18 anos. Uma hipótese que levanto aqui é a de que conforme os devs vão envelhecendo, a rotina, os cuidados com a família e a necessidade de ter fontes de renda externas à produção de jogos dificulta a permanência no cenário dev. Jovens de 16 a 18 anos podem ainda estar recebendo algum tipo de auxílio parental, podendo se dedicar ao desenvolvimento de games.



Quanto à formalização dos estúdios dos respondentes, apenas 8,3% é formalizado. Já em relação ao tamanho dos estúdios, a maioria é de menores proporções, possuindo de 1 a 4 membros. Além disso, dos 97 participantes da pesquisa, apenas 21,6% afirmou ter apenas uma função no estúdio (geralmente a de programador ou de artista). A grande maioria dos devs possui 2 ou mais funções nos estúdios, havendo grande acúmulo de responsabilidades.
Nota-se que poucos respondentes atualmente assumem a função de Testador (QA) e de Produtor. A Baixada poderia se beneficiar muito de cursos nestas áreas!

Quando o assunto é tempo de experiência, podemos notar três grandes perfis de respondentes. A maior parte possui menos de 4 anos trabalhando na área, o que faz sentido considerando que muitos dos que responderam têm menos de 30 anos. Uma parcela bem menor possui mais de 7 anos de trabalho com devs. Considerando essas informações, há um espaço muito grande para o crescimento do setor educacional e profissionalizante em jogos na Baixada.

Vamos falar de Engines? Como provavelmente era de se esperar, a Unity é a mais utilizada pelos devs, seguida de Godot, Unreal e Construct.
Desafios enfrentados pelos Devs
Se tem algo que não falta entre os desenvolvedores da Baixada Santista é vontade de criar. A gente sabe que entre a ideia brilhante e o lançamento do jogo há um caminho cheio de obstáculos e chefões.
Ao analisar as respostas qualitativas à pergunta “Quais são os principais desafios que você enfrenta no desenvolvimento de jogos?”, emergiram temas que se repetem, revelando um cenário de muita resiliência em meio a precariedades.
O dinheiro, como era de se esperar, aparece como o maior desafio. Muitos relatam dificuldades para conseguir financiamento, custear ferramentas e equipamentos, ou simplesmente serem pagos pelo trabalho que realizam. Em um setor onde conseguir investimento pode ser muito difícil e concorrido, muitos desenvolvedores precisam bancar do próprio bolso seus projetos, sem garantia de retorno. Alguns ainda tentam navegar os complexos caminhos do fomento público... Muitas vezes, sem saber sequer por onde começar.
A falta de tempo também é um desafio frequente. Boa parte dos participantes da pesquisa precisa conciliar o desenvolvimento de jogos com outras ocupações, especialmente empregos em áreas que nada têm a ver com games. Essa rotina sobrecarregada torna difícil manter o ritmo dos projetos.
E quando falamos de entrar no mercado? A empregabilidade é outro gargalo. Muitos relatam dificuldade em conseguir o primeiro emprego na área, especialmente em níveis júniores. Faltam estúdios contratando, vagas remotas acessíveis e redes de apoio para quem está começando. O networking ainda é visto como algo distante e pouco acessível para quem está fora dos grandes centros.
Outro ponto importante é a formação técnica. Vários participantes mencionam dificuldades com as engines, com a lógica da programação ou com a falta de materiais didáticos disponíveis em português. Quem não domina o inglês ou não tem acesso a cursos pagos, muitas vezes depende de tutoriais em comunidades online para aprender o básico. A curva de aprendizado pode ser íngreme, especialmente para quem está começando do zero ou desenvolve solo.
Falando nisso, trabalhar em equipe também é uma questão delicada. Aparecem relatos sobre a dificuldade de alinhar ideias, planejar em conjunto ou mesmo encontrar pessoas comprometidas com o projeto. Montar uma party coesa, com as habilidades certas e com queira seguir firme e forte até o fim da quest é um luxo que poucos conseguem.
Já na parte prática do desenvolvimento, surgem desafios relacionados à produção criativa como prazos curtos, bloqueios criativos, dificuldade em desenvolver narrativas que façam sentido e encontrar soluções técnicas. Programação, arte, level design e interface são citados como partes particularmente desafiadoras.
Outro ponto que não pode ser ignorado é a divulgação dos jogos. Muitos sentem que produzem para o vazio, sem saber como alcançar o público ou chamar atenção para seus projetos. O marketing e a pesquisa de usuário surgem como uma barreira a mais (aloooou ofereço serviços de UX Research para estúdios indie! Hehehehe).
Por fim, os devs também precisam encarar desafios pessoais e emocionais. Procrastinação, preguiça, ansiedade, falta de concentração. Criar exige tempo, energia e foco... O que nem sempre está disponível quando se tem tantas outras pressões na vida cotidiana.
E o futuro? O que os devs da Baixada esperam do mercado de jogos na região?

Se o presente é desafiador, o futuro dos jogos na Baixada Santista é visto com uma mistura de otimismo, realismo e, em alguns casos, um certo ceticismo. Ao responderem à pergunta sobre suas expectativas para o crescimento do mercado de jogos na região, os desenvolvedores revelaram um panorama bastante heterogêneo, porém majoritariamente positivo.
De um lado, há quem esteja cheio de esperança. Muitos acreditam que a cena está em ascensão e veem sinais animadores em eventos locais, surgimento de estúdios e até na quantidade de gente talentosa que vem aparecendo nos últimos anos. Para essas pessoas, o futuro parece promissor. “Estou otimista”, “Altas expectativas”, “Acredito que o mercado irá se expandir bastante”, foram frases que apareceram com frequência.
Outro grupo destaca o potencial da Baixada para se tornar um polo de desenvolvimento de jogos. A ideia aqui não é apenas crescer, mas transformar a região em um verdadeiro celeiro criativo, capaz de atrair investidores, criar empregos e rivalizar com outras capitais. A combinação de talento local, custo de vida mais acessível e uma comunidade crescente parece ser a receita ideal para isso.
Nesse embalo, muitos desenvolvedores também expressam o desejo de ver mais eventos, oficinas, cursos técnicos e espaços para mostrar seus jogos. Embora tenha elementos chave, a cena local ainda carece de mais espaços estruturados para networking, aprendizado e visibilidade e essa é uma demanda clara entre quem respondeu ao censo. Game jams, feiras e oficinas públicas são mencionadas como caminhos importantes para unir criadores e fortalecer a cultura gamer na região.
Mas para que tudo isso decole de verdade, o que não pode faltar para os respondentes é investimento e apoio institucional. Fomento público, incentivos culturais, políticas para economia criativa e visibilidade para o que já está sendo feito por aqui são vistos como fatores essenciais para tirar o potencial do papel. Sem isso, alertam alguns, há o risco de talentos continuarem sendo absorvidos por estúdios de fora, ou simplesmente desistirem.
A formação técnica também entra na equação. Muitos reconhecem o avanço na oferta de cursos e capacitações, mas apontam que ainda há um caminho a percorrer para consolidar uma formação de qualidade e com continuidade, que prepare profissionais para o mercado e os mantenha na Baixada.
O espírito indie também aparece com força. Vários participantes acreditam que o futuro está nas mãos dos pequenos estúdios e dos criadores independentes, que, mesmo com poucos recursos, têm feito jogos criativos, pessoais e cheios de identidade. O crescimento da cena indie é visto como um caminho legítimo para tornar o mercado mais diverso e acessível.
Por outro lado, nem todo mundo está confiante. Há quem veja o crescimento como lento, incerto ou limitado. Algumas críticas apontam a falta de profissionalização, o bairrismo de certos eventos locais e a pouca visibilidade fora da região. Outros simplesmente não sabem o que esperar ou não têm expectativas concretas por já terem se frustrado com promessas que nunca se concretizaram.
No fundo, o que transparece é um desejo coletivo: que a Baixada Santista se torne um lugar onde criar jogos seja viável, valorizado e, principalmente, possível como projeto de vida. O caminho ainda tem seus percalços, mas se depender da comunidade que está se formando por aqui o futuro pode, sim, ser jogável!
VENHA PARA A BAIXADA!
E aí? Você tinha noção do potencial da Baixada? Não deixe de vir para cá para prestigiar e participar dos eventos. O Santos Power Up promete ter uma jam com premiação tentadora. Estou tendo o prazer de vislumbrar a organização de pertinho. Estamos cheios de mana para gastar com muita skill e queremos muito que você venha fazer parte da nossa party!
Siga a 13 Bit Game e a Z13 Game Club nas redes!
E fica ligado que vem mais por aí!










Comentários